sábado, 22 de outubro de 2011

Diferenciando amor de amizade...

Apenas amigos


A linha tênue entre amor e amizade. Como diferenciar os dois sentimentos? Essa é uma pergunta que o homem tenta responder há séculos. O filósofo grego Aristóteles disse que "o ideal do amor é a amizade em excesso". No entanto, esse excesso de amizade pode provocar sofrimento, quando um dos amigos vive um amor não correspondido. Em entrevista ao blog, a psicanalista mineira Marília Botelho, que há anos ajuda pacientes a resolver seus conflitos, discute a relação entre amor e amizade e avisa: "quando é amor não há regras nem garantias, é preciso correr o risco".

- Por que é tão comum, doutora, um amigo se apaixonar pelo outro?
M:
 A questão é bastante complexa. O ser humano nasce em falta, ele nasce em um estado de desamparo em que ele precisa de outro ser humano para, até mesmo, sobreviver. Então, justamente porque existe essa falta, ele tem que fazer laços sociais, de amizade, de amor, ou de trabalho, pois o ser humano busca nesse outro, algo que o complete, que o dê essa sensação de completude. Por isso, ele está sempre buscando nesse outro uma identificação. Mas o fato é que de verdade nós somos sozinhos.

Os amigos têm alguns pontos comuns. Então, são idéias, valores, vontades em comum, com isso, como amor e amizade são sentimentos muito próximos, algumas pessoas se apaixonam pelo amigo. Todos nós temos um sentimento de vazio, de incompletude, e o amor vem para preencher esse sentimento de solidão nato ao ser humano, pois o amor alivia esse vazio que sozinhos não conseguimos encarar.

"Uns fogem, outros lutam por esse amor, cada um sabe até onde
arriscar"
- Mas há algum modo de diferenciar o amor da amizade, há como eu racionalizar e saber "estou apaixonado" ou "é só amizade"?
M: Não tem como a gente diferenciar amor e amizade, são sentimentos muito próximos, como eu disse. O que posso dizer é que o amor acontece ao acaso, não tem como o indivíduo delimitar ou escolher a quem ele amará. O que move o amor é o desejo, e com a psicanálise nós sabemos que o desejo é inconsciente, são as nossas fantasias inconscientes, portanto não há como direcionar esse desejo, direcionar esse amor a alguém que escolhemos conscientemente, ou tentar enquadrá-lo em uma norma, uma conduta idealizada. Assim, muitas vezes, uma amizade vem até limitando um relacionamento de namoro, pois não surge esse desejo de amor entre as duas partes.
O melhor amigo da noiva

 Então, o amigo que se apaixonou pelo outro não escolheu se apaixonar e nem o amigo que não se apaixonou pelo outro escolheu não se apaixonar, está entendido. Mas uma das grandes dúvidas de quem se apaixonou é: devo me declarar ao meu amigo?
M:
 Essa é uma das grandes dúvidas de quem se apaixonou por um amigo, o declarar ou não declarar seu amor. Seja qual for a escolha, o indivíduo deve sempre considerar que é um risco. Agora, a preocupação maior que eu percebo nas pessoas com essa dúvida é com a imagem delas diante do outro, "como eu vou ser visto por esse outro?". Se ele vai continuar gostando de mim, se ele vai me aceitar, inclusive, me desejar como homem ou como mulher. O maior medo é esse. Mas a pessoa precisa avaliar e fazer uma escolha, toda escolha é um risco, e com toda escolha você sempre perde alguma coisa, sempre perderá.

- E como saber se vale a pena correr o risco de se declarar?
M:
 Cada um sabe com o que é capaz de lidar, no amor. Há quem declara, há quem foge. As pessoas têm comportamentos diferentes, condutas diferentes, nas situações de amor. Uns fogem e outros enfrentam, uns fogem acreditando que com isso eles vão deixar de sofrer, evitar situações de perigo, enquanto que outros lutam por esse amor e vão correr o risco. Não tem como se falar a fórmula correta de se agir nessa situação. Cada um se permite arriscar até determinado ponto.


"
Alma gêmea, cara-metade, isso não existe!"




- Como não sofrer se o outro amigo não corresponder ao amor?
M:
 A pessoa precisa entender que há sempre desencontro nas relações humanas, sejam elas de amizade ou de namoro. Então, não tem como a gente prever o que vai agradar ao outro. Apesar de a gente tentar procurar, alma gêmea, cara-metade, isso não existe, é uma ilusão! Portanto, sempre haverá desencontros, não é preciso sofrer.

- No caso dos amigos em que o sentimento de amor é recíproco e, por isso, começam a namorar, há um medo de o que namoro estrague a amizade. Esse temor tem fundamento?
M:
 Tem muitas pessoas que tem esse medo, esse discurso "o namoro estraga a amizade". Mas já que estamos falando de relações, em se tratando de relações, nós não temos nenhuma garantia, a gente tem que apostar e nenhuma aposta tem garantia. Então, quem quer amar e se relacionar tem que estar disposto a correr o risco e a apostar!

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